Afonso Angeli Torteroli

 

AFONSO ANGELI TORTEROLI

DIRETOR DA REVISTA SOCIEDADE ACADÊMICA DEUS, CRISTO E CARIDADE

(1849 - 1928)

(UM DOS PRIMEIROS A RECLAMAR O RESPEITO ÀS BASES KARDEQUIANAS DENTRO DO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO)

Afonso Angeli Torteroli: Torteroli versus “Cavalo de Troia febiano” Um dos divulgadores da Doutrina dos Espíritos no século XIX foi Afonso Angeli Torteroli, fundador do “Centro da União Espírita do Brasil”, instituição que tinha a intenção de coordenar o movimento espírita brasileiro.
Para esse objetivo (união e unificação) Torteroli organizou em 1881, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Espírita Brasileiro. Sob sua influência e liderança, ocorreu imprescindível oposição ao trabalho da edificação roustanista no Brasil. Torteroli, então líder dos “científicos” (anti-roustanista), investiu contra Bezerra de Menezes tido como “místico” (neo-roustanista), e sob a liderança do genovês ocorreram discordâncias. O grande desafio de Torteroli foi tentar demonstrar ao Movimento espírita nascente que as obras de Kardec (que ele também traduziu) estavam sendo deturpadas pelo núcleo que fundou a FEB. No embate, Bezerra de Menezes, que era dirigente da recém fundada Federação "Espírita" Brasileira, ainda estava inteiramente enlaçado ao catolicismo, motivo pelo qual foi seduzido a estudar as ilusórias teses (católicas) de J.B. Roustaing, e como não conhecia em profundidade Kardec preferiu apoiar as alucinações e delírios vaticanizadas do advogado Jean Baptiste Roustaing. Nesses tempos, a FEB, com suas incoerências aniquilavam Kardec, propondo uma Doutrina Espírita envolta numa ideologia mística e idolátrica, com tantas considerações e cerimoniais contraditórios que foram se tradicionalizando e impostos ao longo dos tempos. Tal misticismo febiano (que permenece até os dias atuais) era condenado por Afonso Angeli Torteroli. Nesse período (século XIX) costumava-se denominar de “científicos”, os espíritas que defendiam as obras de Allan Kardec e combatiam Roustaing. Por outro lado, os que idolatravam Roustaing eram denominados “místicos”. Torteroli foi deixado de lado pela posteridade, já que o poderio da cúria febiana, que ambicionava levar adiante toda a deturpação das obras de Allan Kardec, enterrou de vez a sua memória. Por isso mesmo jamais cedeu espaço para historiar a biografia dele. Até mesmo o erudito e um dos maiores conhecedores da historiografia espírita, Silvino Canuto de Abreu, refere-se a Angeli Torteroli, apenas como "o professor T.", omitindo assim informação essencial para a compreensão do conflito entre os espíritas "místicos" e os "científicos", no século XIX. Após a desencarnação de Torteroli, este se manifestou pela mediunidade de Chico Xavier, expressando algum pesar (sua perda de tempo de ter controvertido com roustanguistas) o que estabeleceu dissenções por invigilância de todos [“místicos” roustanistas e “científicos”]. A carta foi psicografada no dia 4 de abril de 1950. Nela o italiano reconhece ter entendido o Espiritismo como ciência e filosofia por causa das alucinações de “Os Quatro Evangelhos. Sobre isso, os simpatizantes do Torteroli afirmam que a carta psicografada contém conteúdo anímico do médium de Uberaba.

(Publicado no Reformador - Novembro de 1977 - Baixar a Psicografia)

Para tais, a posição doutrinária assumida por Torteroli (estritamente “científica” e “filosófica”, portanto antiroustaing) não prejudicou sua militância espírita, tanto no que diz respeito à divulgação da obra de Allan Kardec quanto à prática da assistência social. A este tributo ao italiano intrépido expresso gratidão ao amigo Mauro Quintella, um dos mais fiéis e completos biógrafos de Torteroli do M.E.B. Honra e glória a Torteroli!

Brasília, 23 de novembro de 2016 Jorge Hessen / Brasília DF

Mauro Quintella, Estudioso do Espiritismo e do Movimento Espírita, Brasília, DF.

Portal: Espiritismo Como Eu Vejo

 

As grandes lutas travadas no Espiritismo nascente no Brasil por Afonso Angeli Torteroli:

·        A Fundação da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade. 
A Sociedade Acadêmica foi fundada no dia 3 de outubro de 1879. Por considerar o Espiritismo como uma Ciência, seu maior objetivo era criar e sustentar a Academia Espírita de Ciências (artigo II dos estatutos). Torteroli era um dos seus mais atuantes diretores.

·        Defesa Pública do Espiritismo. 
Em novembro de 1880 a Sociedade Acadêmica respondeu aos ataques que a Doutrina Espírita vinha sofrendo na imprensa carioca, mandando publicar matéria na Gazeta de Notícias, O Cruzeiro, Jornal do Comércio e Gazeta da Tarde.

·        Publicação da Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade. 
Em janeiro de 1881 a Sociedade Acadêmica lançou esse periódico que tinha Torteroli como redator-chefe.

·        Reabertura da Sociedade Acadêmica. 
No dia 28 de agosto de 1881 os jornais cariocas noticiaram que a Sociedade Acadêmica seria fechada pela polícia. Em vista disso, a Diretoria da Sociedade visitou o Ministro da Justiça, que garantiu que tudo não passava de boato. No entanto, apesar do desmentido do Ministro, a Acadêmica é, de fato, fechada dois dias depois. Desta vez a Diretoria procurou diretamente o Imperador D. Pedro II, que autorizou a reabertura da instituição.

·        Realização do 1º Congresso Espírita Brasileiro. 
A Sociedade Acadêmica realizou esse evento no dia 6 de setembro de 1881, logo após a reabertura de suas portas. A finalidade do Congresso era organizar o movimento espírita brasileiro.

·        Criação do Centro da União Espírita do Brasil. 
Conforme deliberação do 1ª Congresso Espírita, o Centro foi criado no dia 3 de outubro de 1881, com a função de organizar o movimento. Torteroli foi seu primeiro presidente.

·        Realização da 1ª Exposição Espírita do Brasil. 
Para comemorar o primeiro aniversário de reabertura da Sociedade Acadêmica foi realizado o evento acima, que contou com a exposição de farto material: trabalhos mediúnicos, correspondência da Sociedade, periódicos, livros nacionais e estrangeiros, retratos de vultos famosos, publicações contrárias ao Espiritismo etc.

·        Publicação de O Renovador. 
A Sociedade Acadêmica suspendeu a publicação da Revista e, em seu lugar, lançou O Renovador, jornal destinado exclusivamente à divulgação dos princípios espíritas. Os responsáveis pelo jornal eram Angeli Torteroli e Salustiano Monteiro de Barros.

·        Tradução das Obras da Codificação. 
A Sociedade Acadêmica também traduziu as obras de Allan Kardec. O trabalho era creditado à Comissão de Redação, mas o confrade Arthur Machado afirma que era Torteroli, sozinho, quem executava essa tarefa.

·         Publicação do Reformador. 
Angeli Torteroli colaborou na feitura dos primeiros números deste periódico. A Sociedade Acadêmica suspendeu a circulação de O Renovador para que o público não se dividisse entre ele e o Reformador. Os assinantes do primeiro, caso desejassem, passariam a receber o segundo.

·        Fundação da Federação Espírita Brasileira. 
Embora poucos saibam, Angeli Torteroli fez parte da lista de sócios fundadores da FEB.

·         Defesa de Espíritas Presos. 
Acusado de realizar reuniões em casa, um confrade é preso no Rio de Janeiro. Pinheiro Guedes, Bezerra de Menezes, Aristides Spínola, Dias da Cruz e Angeli Torteroli formam uma comissão para defendê-lo. O fato se deu em 1892.

·        Reorganização do Centro da União. 
Divergindo da orientação doutrinária da FEB, Torteroli reorganiza, em 1894, o Centro da União Espírita do Brasil, mudando-lhe o nome para Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil, a fim de criar outra opção federativa.

·        Publicação da Revista Espírita do Brasil. 
Torteroli lançou esse novo periódico em agosto de 1897.

·       Divergências ideológicas entre os que preconizavam um espiritismo "científico" e outros que sustentavam um espiritismo "místico".

·        Convocação do Congresso Espírita Permanente. 
Procurando agilizar a organização do movimento, o Centro da União propõe que os grupos, a ele filiados, reúnam-se ordinariamente todos os domingos, em congresso permanente, realizando uma vez por ano sua sessão extraordinária. A última reunião extraordinária do Congresso deu-se em 28 de agosto de 1897, pois o Centro da União, vitimado por problemas internos e sob forte oposição da FEB, fechou suas portas em dezembro daquele ano, de maneira definitiva. Com o fechamento do Centro, a Revista Espírita do Brasil também deixou de circular.

Depois de 1897, com o fim do Centro da União e da Revista Espírita, Torteroli abandonou a vanguarda do movimento e só voltou a ocupar um lugar de destaque em 1926, com a realização da Constituinte Espírita Nacional e da consequente fundação da Liga Espírita do Brasil, eventos dos quais participou com muito entusiasmo, apesar de já estar em idade avançada.

Afonso Angeli Torteroli morreu pobre com cerca de 80 anos de idade. Logo após a desencarnação de sua esposa, ele foi internado na 2ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia.

A Liga Espírita do Brasil providenciou para que ele fosse recolhido a um quarto particular. Torteroli amavelmente recusou o obséquio e solicitou que o dinheiro fosse empregado na ajuda aos mais necessitados. Preferia continuar na enfermaria, ensinando a Doutrina Espírita para os doentes interessados.

Seu corpo foi sepultado no dia 12 de janeiro de 1928, às expensas do Cel. Barbosa da Paixão, comandante da Cavalaria da Brigada Policial do Distrito Federal.

A FEB, esquecendo as divergências que tinha com Torteroli, dedicou-lhe justo necrológico no Reformador de janeiro de 1928:

“No dia 12 do corrente sepultou-se no cemitério de São Francisco Xavier o despojo material do que, entre nós, foi (...) um propagandista indefesso. Companheiro de todos os iniciadores do movimento espiritista em nosso país, o velho Torteroli tornou-se (...) um nome (...) conhecido nos meios estudiosos.

De qualquer modo (...) que se encare o feitio moral de Torteroli, jamais se poderá escurecer a sua sinceridade ao serviço, afrontando todas as malquerenças e até ridículos e jamais regateando predicados de generosidade aos seus semelhantes (...). Este e outros serviços à causa valem por títulos creditórios de nossa fraterna homenagem ao irmão que se foi, após urna existência (...) de muitas provações.”

Fontes: Hemeroteca Digital Brasileira (Baixar volumes completos da Revista Sociedade Acadêmica -  Deus, Cristo e Caridade - Ano de 1881 e 1882)

Fontes: A Luz na Mente » Revista on line de Artigos Espíritas (Pacto Áureo)

Fontes: A Luz na Mente » Revista on line de Artigos Espíritas (Roustaing - O Sesquicentenário tão Aguardado na FEB)

"Em 1882, a Sociedade Acadêmica, grupo majoritariamente "científico", publicou a primeira edição de A Gênese, de Allan Kardec, em língua portuguesa. No prefácio dessa edição, lê-se:

"(...) conquanto alguns condiscípulos mostrassem o desejo de que modificações fossem feitas em certos pontos deste volume, de acordo com as ideias manifestadas na obra Os Quatro Evangelhos (...), publicamos a presente tradução de A Gênese sem a mínima alteração e mesmo sem anotações (...). A Sociedade Acadêmica julga que não lhe assiste, como a ninguém, o direito de alterar o plano e, menos ainda, as bases fundamentais (...) das obras publicadas pelo nosso mestre Allan Kardec (...)."

Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade "Afonso Angeli Torteroli"

"O Espiritismo tem que passar por provas rudes e nelas Deus reconhecerá sua coragem, sua firmeza e a sua perseverança. Os que se ausentam por um simples temor, ou por uma decepção, assemelham a soldados que somente são corajosos em tempo de paz, mais que no primeiro tiro, abandonam as armas"

Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade "Afonso Angeli Torteroli"

 

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